RESGATE HISTÓRICO DAS FAMÍLIAS ROMENAS: KUNZ
De MATIAS KUNZ e MARIA HARSCHE
SONHOS QUE ATRAVESSARAM O ATLÂNTICO
MATIAS E MARIA KUNZ - OS SONHADORES
Chegaram do além mar, atravessaram o Atlântico, trazendo a esperança e um novo brilho no olhar, para semear o chão para as colheitas do futuro e assim, transcender a imigração.
O casal Matias e Maria Kunz, meus avós maternos, vieram de mãos prontas para a semeadura na terra farta, e em seus braços, duas filhinhas Clementina e Rufina, esta última minha mãe.
Deixaram para além mar apenas as lembranças, cujas saudades formaram rugas nas suas faces, que o tempo jamais apagou.
Em meio a uma densa selva, semearam a terra, com suas mãos firmes e fortes, transaram as dificuldades com as alegrias e conquistas, transparecendo em seus semblantes, um punhado de ternura.
Um largo horizonte se abriu, a integração dos povos para a colonização fora evidente e a construção das comunidades se iniciou, a partir do berço do barracão dos imigrantes.
Os Romenos integraram os povos da colonização do Extremo Oeste de Santa Catarina.
UM BREVE HISTÓRICO
Matias Kunz é filho de Cristoforus Kuntz e de Juliana Kaal. Nasceu em Krasna, Akkermann, Bessarabia, Romênia em 16-08-1901, batizado em 17-08-1901, na Igreja Católica Sto Josef em Krasna, (imagem 3), onde fora também realizado o seu casamento e o batizado das filhas Clementina e Rufina.
Maria, nascida Harsche, filha de Filipp Harsche e de Mariana Bonjakowsky. Igualmente nasceu em Krasna na data de 09-02-1903 e batizada no mesmo dia.
O casamento realizou-se em 20-11-1924 e sua primeira filha, a tia Clementina nasceu em 30-09-1925 e a segunda, sendo a minha mãe, nasceu em 09-02-1928.
A IMIGRAÇÃO
Conforme registros no Passaporte nr. 63629, liberado e carimbado em Bucarest, Romênia em 01-03-1930, a longa viagem se iniciou, rumo a América. O embarque se deu no Porto de Hamburgo na Alemanha, no navio a vapor chamado CAPITÃO NORTE (imagem 4) e o desembarque se deu no Porto do Rio Grande no Rio Grande do Sul, sendo o visto carimbado e assinado pelo Consulado dos E.U. do Brasil em 29-03-1930.
A IMIGRAÇÃO INTERNA
Após o desembarque, a família se locomoveu de trem até a cidade de Santa Bárbara do Sul, RS. Dali seguiram a SC, atraídos pela colonizadora de Porto Feliz (Mondai). Conforme a tia Clementina contava em suas conversas nos mínimos detalhes, que em Porto Feliz, desembarcaram na barranca do Rio Uruguai, o avô carregando nas costas umas poucas trouxas e a avó conduzia as duas filhinhas e estando gravida da terceira gestação. Da qual nasceu a tia Maria. Pela dificuldade de sobrevivência e de trabalho, por necessidade, o avô Matias se tornou o primeiro sapateiro de Porto Feliz. Após um breve período, mudaram-se para a cidade de Porto Novo (Itapiranga), devido ao trabalho, religião e educação. O avô seguiu com suas atividades na sapataria e a avó nos afazeres domésticos e, as filhas, auxiliando nos trabalhos de casa e indo na escola em Itapiranga.
Mais tarde, por dificuldades financeiras, migraram mais uma vez. Desta vez, para o interior, na linha Ipê Popi, onde a duras penas, conseguiram adquirir seu pedacinho de chão, embora muito montanhoso, porém, agora na condição do sonho realizado. Ali construíram sua primeira propriedade, a primeira casa de madeira, galpão, estrebaria, enfim, todas as benfeitorias necessárias ao desenvolvimento das atividades agrícolas.
A FAMÍLIA
Matias e Maria Kunz criaram sua família na comunidade de Popi, com intensa participação comunitária, religiosa, social e educacional. Assim, tiveram 9 filhos:
- Clementina casada com Jorge Muller (ambos in memoriam)
- Rufina casada com Nicodemus Muller
- Maria casada com José Kessler (ambos in memoriam)
- Hilda casada com Claudio Ely (ambos in memoriam)
- Aloísio casado com Celita Flach (ambos in memoriam)
- Olga casada com Mario Flach (Mario in memoriam)
- Rosa Irmã Religiosa da Divina Providência
- Tereza casada com Silverio Flach (ambos in memoriam)
- Tarcísio casado com Inez Kummer.
Sendo os dois últimos gêmeos. Destes casamentos, se originou um elevado número de netos, seguidos por bisnetos e atualmente com tataranetos.
A VIDA DE MATIAS E MARIA KUNZ
Os avós nos deixaram um grande legado de fé, de ternura e de perseverança, sempre meigos, delicados e carinhosos. O avô muito brincalhão e bem humorado, nos contava as histórias vividas na Bessarabia. A avó, mais compenetrada nas atividades da cozinha em fazer os deliciosos pães - de - ló e as bolachas.
Na propriedade construíram duas casas. A última nos marcou muito, a conhecíamos como a CASA AMARELA. Assim como a idade fora avançando e com limitações que a própria idade lhes impunha, não puderam mais viver sozinhos. Venderam a propriedade e foram morar com os filhos. Primeiramente com a filha Rufina e genro Nicodemus, na nossa casa. Mais tarde na propriedade da filha Clementina e genro Jorge. E, pela última vez carregando a mudança, desta vez para Tunápolis, na casa da tia Olga e genro Mário, onde permaneceram até o fim de suas vidas.
Nesta época já haviam perdido as filhas Maria e Tereza.
O avô Matias faleceu em 08-06-1995 no hospital de Tunápolis, sendo também sepultado no cemitério da mesma cidade. Alcançou a idade de 94 anos de idade.
A avó faleceu em sua residência junto a sua querida cuidadora, a tia Olga, em 03-10-1998 com 95 anos de idade e sepultada junto como vovô Matias.
Logo após a morte da avó, também perdemos o tio Aloísio, a tia Hilda em 2011 e, em 2019 a tia Clementina.
OS FATOS RELEVANTES DA VIDA DOS AVÓS
Os avós realizaram os casamentos de todos os filhos na comunidade de Popi. Foram abençoados com a ordenação da filha Rosa como Irmã Religiosa. Os filhos se envolveram em atividades na agricultura, salvo o tio Tarcísio, se integrou nas atividades educacionais em São João do Oeste, estas, já iniciadas na comunidade de Popi.
Os avós conseguiram realizar várias bodas, comemorações de aniversário de casamento: 50 anos de casados - Bodas de Ouro; 60 anos de casados - Bodas de Diamante; 65 anos de casados - Bodas de Platina; 70 anos de casados - Bodas de vinho; sempre rodeados por muitos familiares e descendentes.
Os avós foram o único casal vivo como pais imigrantes no ato da fundação da Associação dos Romenos Bessarabianos do Extremo Oeste de SC, sendo sócios fundadores de honra, in memoriam.
Atualmente, 04 filhos ainda estão vivos entre nós: minha mãe Rufina, tia Olga, tia Rosa e tio Tarcisio.
GRATIDÃO
Queridos avós Matias e Maria, somos eternamente gratos por vossa existência e por tantos ensinamentos.
Queridos tios e mãe, somos gratos por serem nossa luz, nosso horizonte.
Queridos primos, somos gratos por sermos uma família numerosa e guerreira, dons que herdamos através das gerações.
Enfim... gratidão a todos os tios, tias, primos que se envolveram nesta história e tiveram a bondade de compartilhar fotos do arquivo da família, para que nossa história se tornasse mais intensa.
Gratidão a todos.
Florentina Muller Gruhlke
24.10.2022
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